quarta-feira, 2 de maio de 2012

Da teoria ao exemplo prático: desenvolvimento econômico


Este semestre na Unicamp estamos tendo o curso de Desenvolvimento Econômico. Uma matéria bem interessante que parece aproximar as discussões sobre economia à nossa realidade, uma vez que nos outros cursos estudamos política econômica clássica, Marx, Keynes e outros assuntos que, embora de importância fundamental, são a base nosso conhecimento econômico mas as vezes parecem fugir da nossa realidade pelo tempo ou aplicações práticas numa economia subdesenvolvida. (Esta é minha visão...)

O mais interessante na disciplina de desenvolvimento é ver como os teóricos pararam de analisar as economias europeias e norte-americana e passaram a considerar os problemas dos países considerados da periferia. Uma discussão que se iniciou após o término da Segunda Guerra Mundial e parece não ter data prevista para um fim. Tenho um resumo teórico que fiz para a primeira prova da disciplina e colocarei em breve aqui no blog por achar interessante e relevante, pois, muitas pessoas não têm contato com esse tipo de discussão por falta de acesso (ou de interesse).

Enfim, só estou escrevendo esse post porque vi um exemplo interessante que ilustra uma parte da teoria que vimos ao longo da primeira parte do curso. Na edição de hoje (2 de maio) do jornal Valor Econômico uma reportagem do jornalista Cristiano Romero chamada "Uma visão benigna do mercado de trabalho" mostra um fato que muito se assemelha a uma estratégia de desenvolvimento econômico.

A reportagem de Romero traz informações sobre o crescimento do desemprego os principais fatores que colaboram para a melhora do mercado de trabalho no Brasil. O fato que me permitiu fazer a ligação entre teoria e prática esta na seguinte passagem:

De fato, as Contas Nacionais, apuradas pelo IBGE, mostram que, graças à mecanização, o percentual de trabalhadores ocupados na agropecuária caiu de 22,3% em 2000 para 17,4% em 2009. Isso liberou 833 mil trabalhadores para a indústria e o setor de serviços.

"O Brasil é um dos países que mais têm trabalhadores na agropecuária. Entre os ricos, os que têm menos são a Inglaterra (1,4%), os EUA (1,5%) e a Bélgica (1,8%). Entre os emergentes, os que têm mais são a Indonésia (38,6%), Filipinas (31,1%), Turquia (23,7%) e Colômbia (17,5%). O contínuo processo de ganho de eficiência do agronegócio brasileiro tende a fornecer, portanto, mais trabalhadores a outros setores da economia nos próximos anos."

Há duas ligações possíveis no texto. A primeira é referente à característica de um país subdesenvolvido feita por Rosenstein-Rodan e a segunda sobre a forma de superação do atraso econômico proposta por Nurkse - ambos teóricos do desenvolvimento e apresentaram suas estratégias na década de 1950.

Para todos os teóricos até agora vistos no curso (Rodan, Nurkse, Lewis, Perroux e Hirshman) a passagem de um país da condição de subdesenvolvidos para desenvolvido é feita por meio da indústria. Rodan foi o primeiro teórico que vimos que associou um país atrasado a um país essencialmente agrícola e com uma oferta de mão de obra excessiva no campo. Assim como ele, Nurkse, também observou o atraso, mas com uma ótica diferente, para esse outro teórico o problema estava na formação de capital, ou seja, não havia, nas economias atrasadas, esforços para a "a produção de bens de produção: - ferramentas e instrumentos, máquinas e meios de transporte, instalações e equipamento – todas as espécies de capital real que aumenta, e pode aumentar extraordinariamente, a eficiência do esforço produtivo". 

Este problema deixava a produtividade destes países baixa (ou nula por não existir produção de bens de produção) e, consequentemente, o mercado nos países atrasados era estreito, ou seja, havia pouca ou nenhuma produção de bens de produção e pouco ou nenhuma procura por esses bens - um ciclo vicioso que precisava ser interrompido. Uma das estratégias de Nurkse para a superação dessa condição de atrasado era investir na tecnologia do campo para liberar mão de obra para a indústria.

O trecho da reportagem do Valor parece ilustrar um pouco toda essa lógica entre países atrasados e desenvolvidos e a "importância" que o setor agrícola tem nas economias mais adiantadas. Bom, pelo menos é muito parecido com a teoria que vimos até agora e deve-se guardar as diferenças de épocas entre as proposições dos autores citados e atualidade da reportagem (e, claro, a inexperiência deste que escreve). Os próximos passos do curso são os teóricos da Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina, o que provavelmente vai aproximar ainda mais as discussões com a realidade regional do Brasil. É aguardar para ver se os conceitos vão mudar...

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